O BLOG DE JANEIRO/14
ARTIGO DE FUNDO
SOBRE LIVROS, SEBOS E LEITURAS
Se somos
escritores,certamente,um dia acabaremos num ;o sebo pode ser feio,mal
arrumado,amontoado,verdadeiro depósito de livros,quase um asilo de mendicidade
literário,mas, costuma ser o fim de todas as obras literárias seja você
Cervantes ou Zé da Silva.
Quem põe os livros lá?Um leitor que comprou a obra
leu,não gostou ou que não tem mais espaço na casa ,ou precisa de
dinheiro,ou,ou,ou...Vá-se lá saber o que se passa na cabeça do leitor!
Ou um editor desanimado diante de pilhas e mais pilhas de
livros invendáveis,seja daquela gostosa de bunda grande que ele cantou um dia
,ou de um amigo a quem não podia negar nada,ou aquela atriz de sucesso que ele
achou que poderia apostar nela e mandou imprimir 50.000 exemplares,num dia em
que estava de porre.Sim,não parece ,mais editor
tem seus momentos de ternura em
que abre o saco das bondades e se ferra .Bom contar com a Lei Rouanet e o Banco
do Brasil,senão,onde pararíamos?!Nos cartórios de protestos ou serasas,um
horror!
Bem,ainda temos outro personagem ,o autor,ás vezes com
seus seis personagens,cuja história ninguém quis comprar.Um
dia,contrafeito,arrependido por ter sonhado com vacas literárias que não lhe
deram leite nem caldo,pega as 50 caixas de livro que estão debaixo da cama e
chama o sebo.
Pensamentos ensebados no sebo do bairro ;boa figuração.
Confesso que adoro sebos;vasculhar livros,achar
maravilhas esquecidas e empoeiradas,me dá um prazer igual ao orgasmo se é que
ainda me lembro como era um.
Frequentei muito o sebo do Brandão,quase tão velho
quanto eu e ,não faz muito tempo,encaminhei pra lá um
famoso escritor,que saiu com mãos pesadas de livros e bolso vazio de
notas;mas,feliz como pinto no lixo.Aliás,até achou as crônicas de Fernão Mendes
Pinto e outras velharias raras.
Agora,por falta de tempo ,viajo pelos sebos virtuais e
acho lá maravilhas esquecidas ou recuperadas.Outro dia achei um livro que me
pareceu familiar;era uma velha edição de Nietzsche que eu mesma vendi num lote
em 1985 ,para fazer mais dinheiro na
viagem á Europa.Estava lá,com a minha letrinha de criança,no tempo que eu ainda
sabia escrever letras cursivas ,coisa que foi morta e sepultada pelo teclado do
PC;quando escrevo,hoje,só Deus sabe traduzir ,pois eu,confesso não entender
nada destes garranchos por mim
desenhados.
Bem ,paro por aqui ,pois,recebi três livros de Somerset
Maugham,um escritor muito querido na minha adolescência e estou recuperando os
perdidos, agora.Os três exemplares ,de capa dura,ainda eram do tempo do Círculo
do Livro - alguém se lembra ? –e me
custaram ,juntos,$4.00 reais.O frete foi mais caro.Mas,como diz o Pessoa,também
ele frequentador do sebo,tudo vale a pena se a alma não é pequena.Pois,pois!
SEBOS FAMOSOS
SEBO AVALOVARA,S.P.
O MAIS ANTIGO E COMPLETO DE SALVADOR
EM NEW YORK
SEBO VERMELHO,EM LISBOA
LELLO,UMA LIVRARIA CENTENÁRIA,NO PORTO
EM PARIS,NO QUARTIER LATIN
QUER PERCORRER 15000 SEBOS EM POUCOS MINUTOS?
EU SOU FÃ!
A POESIA SATÍRICA DE JESSIÉ QUIRINO
Vou-me
embora pro passado
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
Roy Rogers, Buc Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.
Vou-me
embora pro passado
Porque lá, é outro astral
Lá tem carros Vemaguet
Jeep Willes, Maverick
Tem Gordine, tem Buick
Tem Candango e tem Rural.
Lá
dançarei Twist
Hully-Gully, Iê-iê-iê
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de Nycron
Faroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e Banlon
Verei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di Lá
Dominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de Grapette
Na farra dos
piqueniques
Vou-me embora pro passado.
No passado tem
Jerônimo
Aquele Herói do Sertão
Tem Coronel Ludugero
Com Otrope em discussão
Tem passeio de Lambreta
De Vespa, de Berlineta
Marinete e Lotação.
Quando toca Pata
Pata
Cantam a versão musical
"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
Cantando Banho de Lua
Tem bundeira e piniqueira
Dando sopa pela rua
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro
passado
Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas "quebrando"
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó de Arroz
Da Cachemere Bouquet
Coty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho.
E lá no cinema Rex
Se vê broto a namorar
De mão dada com o guri
Com vestido de organdi
Com gola de tafetá.
Os homens lá do
passado
Só andam tudo tinindo
De linho Diagonal
Camisas Lunfor, a tal
Sapato Clark de cromo
Ou Passo-Doble esportivo
Ou Fox do bico fino
De camisas Volta ao Mundo
Caneta Shafers no bolso
Ou Parker 51
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinho
Pente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo
Cintilante como o sol.
Vou-me embora pro
passado
Lá tem tudo que há de bom!
Os mais velhos inda usam
Sapatos branco e marrom
E chapéu de aba larga
Ramenzone ou Cury Luxo
Ouvindo Besame Mucho
Solfejando a meio tom.
No passado é outra
história!
Outra civilização...
Tem Alvarenga e Ranchinho
Tem Jararaca e Ratinho
Aprontando a gozação
Tem assustado à Vermuth
Ao som de Valdir Calmon
Tem Long-Play da Mocambo
Mas Rosenblit é o bom
Tem Albertinho Limonta
Tem também Mamãe Dolores
Marcelino Pão e Vinho
Tem Bat Masterson, tem Lesse
Túnel do Tempo, tem Zorro
Não se vê tantos horrores.
Lá no passado tem
corso
Lança perfume Rodouro
Geladeira Kelvinator
Tem rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro
Se ouve Carlos Galhardo
Em Audições Musicais
Piano ao cair da tarde
Cancioneiro de Sucesso
Tem também Repórter Esso
Com notícias atuais.
Tem petisqueiro e
bufê
Junto à mesa de jantar
Tem bisqüit e bibelô
Tem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brinca de cabra cega
De drama, de garrafão
Camoniboi, balinheira
De rolimã na ladeira
De rasteira e de pinhão.
Lá, também tem
radiola
De madeira e baquelita
Lá se faz caligrafia
Pra modelar a escrita
Se estuda a tabuada
De Teobaldo Miranda
Ou na Cartilha do Povo
Lendo Vovô Viu o Ovo
E a palmatória é quem manda.
Tem na revista O
Cruzeiro
A beleza feminina
Tem misse botando banca
Com seu maiô de elanca
O famoso Catalina
Tem cigarros Yolanda
Continental e Astória
Tem o Conga Sete Vidas
Tem brilhantina Glostora
Escovas Tek, Frisante
Relógio Eterna Matic
Com 24 rubis
Pontual a toda hora.
Se ouve página
sonora
Na voz de Ângela Maria
"- Será que sou feia?
- Não é não senhor!
- Então eu sou linda?
- Você é um amor!..."
Quando não querem a
paquera
Mulheres falam: "Passando,
Que é pra não enganchar!"
"Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"
E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen
Que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar
Faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!
Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.
No passado tem
remédio
Pra quando se precisar
Lá tem Doutor de família
Que tem prazer de curar
Lá tem Água Rubinat
Mel Poejo e Asmapan
Bromil e Capivarol
Arnica, Phimatosan
Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton
Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo
Pílulas de Vida do Dr. Ross
Tem também aqui pra nós
Uma tal Robusterina
A saúde feminina.
Vou-me embora pro
passado
Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluído
Pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência
Nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho
Nem asfalto nem entulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade
Escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado
Da jornada, do batente
Terei uma cama Patente
Daquelas do selo azul
Num quarto calmo e seguro
Onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais futuro
Vou -me embora pro
passado.
CANTINHO BEM HUMORADO
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