sábado, 25 de janeiro de 2014

SOBRE LIVROS,SEBOS E LEITURAS



O BLOG DE JANEIRO/14

ARTIGO DE FUNDO



         SOBRE LIVROS, SEBOS E LEITURAS

Se  somos escritores,certamente,um dia acabaremos num ;o sebo pode ser feio,mal arrumado,amontoado,verdadeiro depósito de livros,quase um asilo de mendicidade literário,mas, costuma ser o fim de todas as obras literárias seja você Cervantes ou Zé da Silva.
Quem põe os livros lá?Um leitor que comprou a obra leu,não gostou ou que não tem mais espaço na casa ,ou precisa de dinheiro,ou,ou,ou...Vá-se lá saber o que se passa na cabeça do leitor!
Ou um editor desanimado diante de pilhas e mais pilhas de livros invendáveis,seja daquela gostosa de bunda grande que ele cantou um dia ,ou de um amigo a quem não podia negar nada,ou aquela atriz de sucesso que ele achou que poderia apostar nela e mandou imprimir 50.000 exemplares,num dia em que estava de porre.Sim,não parece ,mais editor   tem seus momentos de ternura em que abre o saco das bondades e se ferra .Bom contar com a Lei Rouanet e o Banco do Brasil,senão,onde pararíamos?!Nos cartórios de protestos ou serasas,um horror!
Bem,ainda temos outro personagem ,o autor,ás vezes com seus seis personagens,cuja história ninguém quis comprar.Um dia,contrafeito,arrependido por ter sonhado com vacas literárias que não lhe deram leite nem caldo,pega as 50 caixas de livro que estão debaixo da cama e chama o sebo.
Pensamentos ensebados no sebo do bairro ;boa figuração.
Confesso que adoro sebos;vasculhar livros,achar maravilhas esquecidas e empoeiradas,me dá um prazer igual ao orgasmo se é que ainda me lembro como era um.
Frequentei muito o sebo do Brandão,quase tão velho quanto   eu e ,não faz muito tempo,encaminhei pra lá um famoso escritor,que saiu com mãos pesadas de livros e bolso vazio de notas;mas,feliz como pinto no lixo.Aliás,até achou as crônicas de Fernão Mendes Pinto e outras velharias raras.
Agora,por falta de tempo ,viajo pelos sebos virtuais e acho lá maravilhas esquecidas ou recuperadas.Outro dia achei um livro que me pareceu familiar;era uma velha edição de Nietzsche que eu mesma vendi num lote em 1985 ,para fazer mais dinheiro  na viagem á Europa.Estava lá,com a minha letrinha de criança,no tempo que eu ainda sabia escrever letras cursivas ,coisa que foi morta e sepultada pelo teclado do PC;quando escrevo,hoje,só Deus sabe traduzir ,pois eu,confesso não entender nada destes garranchos por mim  desenhados.
Bem ,paro por aqui ,pois,recebi três livros de Somerset Maugham,um escritor muito querido na minha adolescência e estou recuperando os perdidos, agora.Os três exemplares ,de capa dura,ainda eram do tempo do Círculo do Livro  - alguém se lembra ? –e me custaram ,juntos,$4.00 reais.O frete foi mais caro.Mas,como diz o Pessoa,também ele frequentador do sebo,tudo vale a pena se a alma não é pequena.Pois,pois!



                                 SEBOS FAMOSOS




                              SEBO AVALOVARA,S.P.






O MAIS ANTIGO E COMPLETO DE SALVADOR



EM NEW YORK




SEBO VERMELHO,EM LISBOA










LELLO,UMA LIVRARIA CENTENÁRIA,NO PORTO


EM PARIS,NO QUARTIER LATIN


QUER PERCORRER 15000 SEBOS EM POUCOS MINUTOS?







EU SOU FÃ!





 A POESIA SATÍRICA DE JESSIÉ QUIRINO



Vou-me embora pro passado

Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
Roy Rogers, Buc Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.


Vou-me embora pro passado

Porque lá, é outro astral
Lá tem carros Vemaguet
Jeep Willes, Maverick
Tem Gordine, tem Buick
Tem Candango e tem Rural.

Lá dançarei Twist

Hully-Gully, Iê-iê-iê
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de Nycron
Faroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e Banlon
Verei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di Lá
Dominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de Grapette

Na farra dos piqueniques

Vou-me embora pro passado.
No passado tem Jerônimo 

Aquele Herói do Sertão
Tem Coronel Ludugero
Com Otrope em discussão
Tem passeio de Lambreta
De Vespa, de Berlineta
Marinete e Lotação.

Quando toca Pata Pata

Cantam a versão musical
"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
Cantando Banho de Lua
Tem bundeira e piniqueira 
Dando sopa pela rua
Vou-me embora pro passado.

Vou-me embora pro passado

Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas "quebrando"
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó de Arroz
Da Cachemere Bouquet
Coty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho.

E lá no cinema Rex

Se vê broto a namorar
De mão dada com o guri
Com vestido de organdi
Com gola de tafetá.

Os homens lá do passado

Só andam tudo tinindo
De linho Diagonal
Camisas Lunfor, a tal
Sapato Clark de cromo
Ou Passo-Doble esportivo
Ou Fox do bico fino
De camisas Volta ao Mundo
Caneta Shafers no bolso
Ou Parker 51
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinho
Pente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo
Cintilante como o sol.

Vou-me embora pro passado 

Lá tem tudo que há de bom!
Os mais velhos inda usam 
Sapatos branco e marrom 
E chapéu de aba larga
Ramenzone ou Cury Luxo
Ouvindo Besame Mucho
Solfejando a meio tom.

No passado é outra história!

Outra civilização...
Tem Alvarenga e Ranchinho 
Tem Jararaca e Ratinho
Aprontando a gozação
Tem assustado à Vermuth
Ao som de Valdir Calmon
Tem Long-Play da Mocambo
Mas Rosenblit é o bom
Tem Albertinho Limonta
Tem também Mamãe Dolores
Marcelino Pão e Vinho
Tem Bat Masterson, tem Lesse
Túnel do Tempo, tem Zorro
Não se vê tantos horrores.

Lá no passado tem corso 

Lança perfume Rodouro
Geladeira Kelvinator
Tem rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro
Se ouve Carlos Galhardo
Em Audições Musicais
Piano ao cair da tarde
Cancioneiro de Sucesso
Tem também Repórter Esso
Com notícias atuais.

Tem petisqueiro e bufê 

Junto à mesa de jantar
Tem bisqüit e bibelô
Tem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brinca de cabra cega
De drama, de garrafão
Camoniboi, balinheira
De rolimã na ladeira
De rasteira e de pinhão.

Lá, também tem radiola 

De madeira e baquelita 
Lá se faz caligrafia
Pra modelar a escrita
Se estuda a tabuada
De Teobaldo Miranda
Ou na Cartilha do Povo
Lendo Vovô Viu o Ovo 
E a palmatória é quem manda.

Tem na revista O Cruzeiro 

A beleza feminina
Tem misse botando banca
Com seu maiô de elanca
O famoso Catalina
Tem cigarros Yolanda
Continental e Astória
Tem o Conga Sete Vidas
Tem brilhantina Glostora
Escovas Tek, Frisante
Relógio Eterna Matic
Com 24 rubis
Pontual a toda hora.

Se ouve página sonora 

Na voz de Ângela Maria
"- Será que sou feia?
- Não é não senhor!
- Então eu sou linda?
- Você é um amor!..."

Quando não querem a paquera

Mulheres falam: "Passando,
Que é pra não enganchar!"
"Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"
E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen
Que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar
Faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!
Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.

No passado tem remédio

Pra quando se precisar
Lá tem Doutor de família
Que tem prazer de curar
Lá tem Água Rubinat
Mel Poejo e Asmapan
Bromil e Capivarol
Arnica, Phimatosan
Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton
Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo
Pílulas de Vida do Dr. Ross
Tem também aqui pra nós
Uma tal Robusterina 
A saúde feminina.

Vou-me embora pro passado

Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluído
Pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência
Nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho
Nem asfalto nem entulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade
Escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado
Da jornada, do batente
Terei uma cama Patente
Daquelas do selo azul
Num quarto calmo e seguro
Onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais futuro

Vou -me embora pro passado.


CANTINHO BEM HUMORADO