domingo, 20 de setembro de 2020

OS SANTOS GÊMEOS

 




                                         O BLOG DO AVESSO E DO DIREITO





                                                  OS SANTOS GÊMEOS

Nós os conhecemos como meninos levados; no Rio

de Janeiro, apreciam bombons e fazem brincadeiras infantis;

na Bahia, esbaldam-se nas comidas que lhes são

dedicadas e cobram total carinho e atenção de seus fiéis,

que são inúmeros. No dia de sua festa, 27 de setembro,

no meio da comilança e das danças, agarram no seu cavalo

(filho ou filha de santo que “incorpora” a entidade)

e fazem brincadeiras com os presentes, devotos ou não,

falando o tatibitate infantil e se lambuzando (e lambuzando

os outros) de cocada puxa, rapadura ou caruru.

São danadinhos, mas não deixam seus devotos na mão.

Pediu, recebeu.

Estudando o passado para saber de onde vieram e

como começou a tradição, descobri que foram médicos

caridosos e dedicados que cuidavam dos pobres e desvalidos;

irmãos no sangue, ligados pelo saber, fazendo o

bem sem olhar a quem.

Quando os remédios faltavam, recorriam à oração

e benziam a água, que se transformava em remédio miraculoso.

Eles trabalhavam em prol da humanidade, por

amor. Por isso eram chamados “os anargiros”, ou seja,a

inimigos do dinheiro, epíteto que, de jeito nenhum,

se aplicaria aos médicos de hoje, nem aos planos de

saúde.

Eu os imagino jovens e bonitos, morenos, pois tinham

origem árabe, indo de casa em casa, fizesse sol ou

chuva, a sangrar, pensar, receitar, consolar e aconselhar.

Vislumbro a alegria que essa gente desassistida devia ter

ao vê-los chegar.

Entregue a essa visão, ouço uma voz lá longe gritar:

Missa pedida pra São Cosme e São Damião!

E alguém respondeu:

– Eles mesmo que nos ajudem.

Na Bahia, os médicos abnegados foram substituídos

pela negra carregando uma caixinha de papelão

mal ajambrada, com pequenas imagens de argila metidas

no fundo, rodeadas por um monte de manjericão,

melindre, malmequeres, misturados com papel de seda

cortado.

Como boa baiana, deposito minha moedinha na

caixa, mas converso com meus botões: – Pra que santo

quer dinheiro? Eles têm tudo!

Quem pediu a moeda explica que é promessa; o

santo lhe valeu, tem que pagar o prometido: missa e

caruru. Como é pobre, pede para poder cumprir o prometido.

– E eu com isso? Quem pariu Mateus que balance...

Seria fazer cortesia com chapéu alheio.

A desculpa é que é um preceito, é assim desde que

o mundo é mundo. Vá lá! Embora tenha malandro que

peça para a “caninha”, o santo não vê nem o cheiro da

oferenda. Muitos cantam assim:

São Cosme e São Damião

Fizeram combinação

Saírem pedindo esmola,

Para fazerem um pirão.

O certo é que na Bahia são adorados, inclusive por

mim, que tenho um filho de setembro e netos gêmeos.

Meu caruru, com tudo o que tem direito, não deixo de

oferecer. Promessa é dívida.





NOSSO  HINO NACIONAL EM 2020













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