quarta-feira, 5 de outubro de 2011

PARA HOMENAGEAR O" DIA DO POETA"




PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos. 
Não há criação nem morte perante a poesia. 
Diante dela, a vida é um sol estático, 
não aquece nem ilumina. 
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. 
Não faças poesia com o corpo, esse excelente, 
completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica. 
Tua gota de bile, 
tua careta de gozo ou dor no escuro são indiferentes. 
Não me reveles teus sentimentos, 
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem. 
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. 
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. 
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas. 
Não é música ouvida de passagem, 
rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma. 
O canto não é a natureza 
nem os homens em sociedade. 
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas) 
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques, 
não indagues. Não percas tempo em mentir. 
Não te aborreças. 
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante, 
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família 
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável. 
Não recomponhas 
tua sepultada e merencória infância. 
Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação. 
Que se dissipou, não era poesia. 
Que se partiu, cristal não era. 
Penetra surdamente no reino das palavras. 
Lá estão os poemas que esperam ser escritos. 
Estão paralisados, mas não há desespero, 
há calma e frescura na superfície intata. 
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. 
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. 
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. 
Espera que cada um se realize e consume 
com seu poder de palavra 
e seu poder de silêncio. 
Não forces o poema a desprender-se do limbo. 
Não colhas no chão o poema que se perdeu. 
Não adules o poema.
Aceita-o  como ele aceitará sua forma 
definitiva e concentrada no espaço. 
Chega mais perto e contempla as palavras. 
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra 
e te pergunta, sem interesse pela resposta, 
pobre ou terrível que lhe deres: 
Trouxeste a chave? 
Repara: 
ermas de melodia e conceito 
elas se refugiaram na noite, as palavras. 
Ainda úmidas e impregnadas de sono, 
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
 
Carlos Drummond de Andrade 






FRASES SOBRE OS POETAS

"O poeta deve ser um professor de esperança." (Jean Giono)

"Para que haja grandes poetas é preciso que haja também um grande público." (Walt Whitman)

"Ser poeta não é apenas dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras." (Mario Quintana)


"Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra." (Pablo Neruda)

"A vida de um poeta é como uma flauta na qual Deus entoa sempre melodias novas." (Rabindranath Tagore)

"Os poetas são como os pássaros: a menor coisa os faz cantar." 
(François-René de Chateaubriand)


                                    ELA, A POESIA

4 comentários:

  1. O que dizer em meio a tanta genialidade? Que o poeta é um sonhador de palavras? É o fabricador de emoções? Ah, poeta como é bom poetar! Beijos, Miriam!

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  2. Maravilhosa postagem de homenagem a todos os poetas! Bjs

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  3. Tunin,eu sempre me sinto humilde qdo leio Drummond.
    bjs

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