segunda-feira, 28 de março de 2011

SEMANA POÉTICA





De Elisa Lucinda
Libação
É do nascedouro da vida a grandeza. 
É da sua natureza a fartura
 
a ploriferação
 
os cromossomiais encontros,
 
os brotos os processos caules,
 
os processos sementes
 
os processos troncos,
 
os processos flores,
 
são suas mais finas dores
As conseqüências cachos, 
as conseqüências leite,
 
as conseqüências folhas
 
as conseqüências frutos,
 
são suas cores mais belas
É da substância do átomo 
ser partível produtivo ativo e gerador
 
Tudo é no seu âmago e início,
 
patrício da riqueza, solstício da realeza
É da vocação da vida a beleza 
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
 
com nossos minúsculos gestos ratos
 
nossos fatos apinhados de pequenezas,
 
cabe a nós enchê-la,
 
cheio que é o seu princípio
Todo vazio é grávido desse benevolente risco 
todo presente é guarnecido
 
do estado potencial de futuro
Peço ao ano-novo 
aos deuses do calendário
 
aos orixás das transformações:
 
nos livrem do infértil da ninharia
 
nos protejam da vaidade burra
 
da vaidade "minha" desumana sozinha
 
Nos livrem da ânsia voraz
 
daquilo que ao nos aumentar
 
nos amesquinha.
A vida não tem ensaio 
mas tem novas chances
Viva a burilação eterna, a possibilidade: 
o esmeril dos dissabores!
 
Abaixo o estéril arrependimento
 
a duração inútil dos rancores
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos: 
a vida inédita pela frente
 
e
 a virgindade dos dias que virão!

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